No meio daquele labirinto de vídeos
eróticos, ele esperava encontrar alguém. Rezava para que fosse o minotauro. Ou
melhor ainda: para que fosse um Teseu cheio de tesão. De repente, sentiu que
alguém atrás atravessava sua roupa. Ao virar-se, seus olhos encontraram os de
uma garota. E logo ele, que sempre teve a mais absoluta e resoluta certeza de
que não gostava de garotas, logo ele, foi atingido em cheio na massa mole e
compacta que o fazia matéria viva.
sábado, 27 de outubro de 2012
' Asas', de Christina Dias
A mosca deixava pegadas na janela sobre a mesa onde ela trabalhava. Ela escrevia com caneta Bic. A mosca usava as patas para esticar as fibras das suas asas de mosca de casa. Quando chovia, as luzes deixavam o vidro com ar de festa e faziam da mosca bailarina que voa. Pequenos voos de não ir embora. Embora fosse da sua natureza partir. A janela fechada criou vícios de ser assim. Estavam seguras a mosca e a dona que escrevia.
Ela sentou decidida como quem tem uma história para contar.Pegou a caneta Bic e levou até a vidraça espremendo a mosca num estalo. Abriu a janela e saltou.
'Paula números', de Paulo Scott
— A Paula taí?
— Olha, rapaz, meninas atendendo por
esse nome é o que mais tem aqui. Sabe como ela é?
— É uma com os olhos estranhos.
— Ah...a vesga?
— Não, é uma com os olhos assim...
Tira do bolso do casaco uma garrafa
quebrada (dessas quebradas em borda de mesa) de um azul acinzentado, com sangue
espalhado na superfície.
'Era vidro e se quebrou', de Cíntia Moscovich
Copos.
Taças, cálices, com pé, sem pé,
vidro, plástico, cristal. Ela adorava comprar, cada dia um diferente. E
comprava.
Copos.
O marido vivia se queixando e se
queixando: não havia mais lugar para tanto copo, aquilo era maluquice.
Até que ela resolveu dar um basta no
falatório: pegou vassoura, martelo e maçarico e foi direto aos copos — quebrou,
rebentou, fundiu. Tudo, tudinho.
A razão tinha vencido,e ele ficou
feliz da vida. Pelo menos até que abriu a geladeira: um mar de requeijão.
Copos.
'LA MENDIGA DE NÁPOLES' , de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
Cuando yo vivia en Nápoles, había en
la puerta de mi palácio una mendiga a la que yo arrojaba monedas antes de subir
al coche. Un dia, sorprendido de que no me diera nunca las gracias, miré a la
mendiga; entonces vi que lo que había tomado por una mendiga más bien era un
cajón de madera, pintado de verde, que contenía tierra colorada y algu bananas
médio podridas.
'EL SUEÑO DE CHUANG TZU', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
Chuang Tzu soñó que era una mariposa
y no sabía al despertar si era un hombre que había soñado ser una mariposa o
una mariposa que ahora soñaba ser un hombre.
'DER TRAUM EIN', Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
El
diálogo ocurrió en Adrogué. Mí sobrino Miguel, que tendría cinco o seis años,
estaba sentado en el suelo, jugando con la gata. Como todas las mañanas, le
pregunté: —¿Qué soñaste anoche?
Me contestó:
—Soñé que me había perdido en un bosque y que al fin encontré una casita de
madera. Se
abrió la puerta y saliste vos.— Con súbita curiosidad me preguntó: —Decime,
¿qué estabas haciendo en esa casita?
'Janta', de Luís Dill
No fim da tarde, tiroteio entre traficantes. Uma das balas desceu o morro e atingiu o pescoço de Josefina, dona-de-casa. Ela saía do açougue. Caiu morta na ruela de terra. O marido, servente de pedreiro, chegou pouco depois, um vizinho apontando o corpo, que fosse olhar. A polícia o deixou passar. Com o pé, arrastou o jornal de cima do rosto da falecida. Aí começou a procurar em volta. O policial querendo saber se a identificava e ele, desesperado, queria saber onde estavam os bifes.
'EL PELIGROSO TAUMATURGO', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
Un clérigo que descreía del
mormonismo fue a visitar a Joseph Smith, el profeta, y le pidió un milagro.
Smith le contestó:
—Muy bien, señor. Lo dejo a su
elección. ¿Quiere usted quedar ciego o sordo? ¿Elige la parálisis, o prefiere que le seque una mano? Hable, y en el
nombre de Jesucristo yo satisfaré su deseo.
El clérigo
balbuceó que no era esa la clase de milagro que él había solicitado.
—En tal caso, señor —dijo Smith—,
usted se va a quedar sin milagro. Para convencerlo a usted no perjudicaré a
otras personas.
'HISTORIA DE LOS DOS REYES Y DE LOS DOS LABERINTOS', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
Cuentan los hombres dignos de fe
(pero Alá sabe más) que en los primeros días hubo un rey de las islas de
Babilonia que congregó a sus arquitectos y magos y les mandó construir un
laberinto tan perplejo y sutil que los varones más prudentes no se aventuraban
a entrar, y los que entraban se perdían. Esa obra era un escándalo, porque la
confusión y la maravilla son operaciones propias de Dios y no de los hombres.
Con el andar del tiempo vino a su corte un rey de los árabes, y el rey de
Babilonia (para hacer burla de la simplicidad de su huésped) lo hizo penetrar
en el laberinto, donde vagó afrentado y confundido hasta la declinación de la
tarde.Entonces imploró el socorro divino y dio con la puerta. Sus labios no
profirieron queja ninguna, pero le dijo al rey de Babilonia que él en Arabia
tenía una laberinto mejor y que, si Dios era servido, se lo daría a conocer
algún día. Luego regresó a Arabia, juntó sus capitanes y sus alcaides y estragó
los reinos de Babilonia con tan venturosa fortuna que derribó sus castillos,
rompió sus gentes e hizo cautivo al mismo rey. Lo amarró encima de un camello
veloz y le dijo: “¡Oh, rey del tiempo y sustancia y cifra del siglo, en
Babilonia me quisiste perder en un laberinto de bronce con muchas escaleras,
puertas y muros; ahora el Poderoso ha tenido a bien que te muestre el mío, donde
no hay escaleras que subir, ni puertas que forzar, ni fatigosas galerías que
recorrer, ni muros que te veden el paso”.
Luego le desató las ligaduras y lo
abandonó en mitad del desierto, donde murió de hambre y de sed. La gloria
sea con Aquel que no muere.
'EL CIELO GANADO', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
El día del Juicio Final, Dios juzga
a todos y a cada uno de los hombres.
Cuando llama a Manuel Cruz, le dice:
—Hombre de poca fe. No creíste en
mí. Por eso no entrarás en el Paraíso.
—Oh Señor —contesta Cruz—, es verdad
que mí fe no ha sido mucha. Nunca he creído en Vos, pero siempre te he
imaginado.
Tras escucharlo, Dios responde:
—Bien, hijo mío, entrarás en el
cielo; mas no tendrás nunca la certeza de hallarte en él.
'1976, una cárcel del Uruguay: Pájaros prohibidos', de Eduardo Galeano
Los presos políticos uruguayos no
pueden hablar sin permiso, silbar, sonreír, cantar, caminar rápido ni saludar a
otro preso. Tampoco pueden dibujar ni recibir dibujos de mujeres embarazadas,
parejas, mariposas, estrellas ni pájaros.
Didaskó Pérez, maestro de escuela, torturado
y preso por tener ideas ideológicas, recibe un domingo la visita de su
hija Milay, de cinco años. La hija le trae un dibujo de pájaros. Los censores
se lo rompen a la entrada de la cárcel.
Al domingo siguiente, Milay le trae
un dibujo de árboles. Los árboles no están prohibidos, y el dibujo pasa.
Didaskó le elogia la obra y le pregunta por los circulitos de colores que
aparecen en las copas de los árboles, muchos pequeños círculos entre las ramas:
—¿Son naranjas? ¿Qué frutas son? La niña lo hace callar: —Ssshhhh.
Y en
secreto le explica:
'O livro do desassossego', de Fernando Pessoa [Bernardo Soares]
231.
Fazer uma obra e reconhecê-la má
depois de feita é uma das tragédias da alma. Sobretudo é grande quando se
reconhece que essa obra é a melhor que se podia fazer. Mas ao ir
escrever uma obra, saber de antemão que ela tem de ser imperfeita e falhada; ao
está-la escrevendo estar vendo que ela é imperfeita e falhada — isto é o máximo
da tortura e da humilhação do espírito. Não só os versos que escrevo sinto que
me não satisfazem, mas sei que os versos que estou para escrever me não satisfarão,
também. Sei-o tanto filosoficamente, carnalmente, por uma entrevisão obscura e
gladiolada.
Por que escrevo então? Porque,
pregador que sou da renúncia, não aprendi ainda a executá-la plenamente. Não
aprendi a abdicar da tendência para o verso e a prosa. Tenho de escrever como
cumprindo um castigo. E o maior castigo é o de saber que o que escrevo resulta
inteiramente fútil, falhado e incerto.
Em criança escrevia já versos. Então
escrevia versos muito maus, mas julgava-os perfeitos. Nunca mais tornarei a ter
o prazer falso de produzir obra perfeita. O que escrevo hoje é muito melhor. É
melhor, mesmo, do que o que poderiam escrever os melhores. Mas está
infinitamente abaixo daquilo que eu não sei porquê, sinto que podia — ou talvez
seja, que devia — escrever. Choro sobre os meus versos maus da infância como
sobre uma criança morta, um filho morto, uma última esperança que se fosse.
'O livro do desassossego', de Fernando Pessoa [Bernardo Soares]
408.
Cantava,
em uma voz muito suave, uma canção de país longínquo. A música tornava
familiares as palavras incógnitas. Parecia o fado para a alma, mas não tinha
com ele semelhança alguma.
A canção dizia, pelas palavras
veladas e a melodia humana, coisas que estão na alma de todos e que ninguém
conhece. Ele cantava numa espécie de sonolência, ignorando com o olhar os
ouvintes, num pequeno êxtase de rua.
O povo reunido ouvia-o sem grande
motejo visível. A canção era de toda a gente, e as palavras falavam às vezes
connosco, segredo oriental de qualquer raça perdida. O ruído da cidade não se
ouvia se o ouvíamos, e passavam as carroças tão perto que uma me roçou pelo
solto do casaco. Mas senti-a e não a ouvi. Havia uma absorção no canto do
desconhecido que fazia bem ao que em nós sonha ou não consegue. Era um caso de
rua, e todos reparámos que o polícia virara a esquina lentamente. Aproximou-se
com a mesma lentidão. Ficou parado um tempo por trás do rapaz dos
guarda-chuvas, como quem vê qualquer coisa. Nesta altura o cantor parou.
Ninguém disse nada. Então o polícia interveio.
'LA SOMBRA DI LAS JUGADAS', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
En
uno de los cuentos que integran la serie de los Mabinogion, dos reyes
enemigos juegan al ajedrez, mientras en un valle cercano sus ejércitos luchan y
se destrozan. Llegan
mensajeros con noticias de la batalla; los reyes no parecen oirlos e,
inclinados sobre el tablero de plata, mueven las piezas de oro. Gradualmente se
aclara que las vicisitudes del combate siguen las vicisitudes del juego. Hacia
el atardecer, uno de los reyes derriba el tablero, porque le han dado jaque
mate y poco después un jinete ensangrentado le anuncia: —Tu ejército huye, has
perdido el reino.
'Cansaço', de Valesca de Assis
Estou cansada da literatura. Farta
de negações.
Vou ser apenas vovó, digo.
Da estante, os livros cravam-me: e
os espaços vazios?
Devolvo a bola ao menino.
'LOS OJOS CULPABLES', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
Cuentan que un hombre compró a una
muchacha por cuatro mil denarios. Un día la miró y se echó a llorar. La
muchacha le preguntó por qué lloraba; él respondió:
—Tienes tan bellos ojos que me
olvido de adorar a Dios.
Cuando quedó sola, la muchacha se
arrancó los ojos. Al verla en ese estado el hombre se afligió y le dijo:
—¿Por qué te has maltratado así? Has
disminuido tu valor.
Ella respondió: —No quiero que haya nada en mí que te aparte
de adorar a Dios.
A la noche, el hombre oyó en sueños
una voz que le decía: “La muchacha disminuyó su valor para ti, pero lo aumentó
para nosotros y te la hemos tomado”. Al despertar, encontró cuatro mil denarios
bajo la almohada. La muchacha estaba muerta.
'UN MITO DE ALEJANDRO', de Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy Casares
¿Quién no recuerda aquel poema de
Robert Graves, en el que se sueña que Alejandro el grande no murió en
Babilonia, sino que se perdió de su ejército y fue internándose en el Asia? Al
cabo de vagancias por esa geografía ignorada, dio con un ejército de hombres
amarillos y, como su oficio era la guerra, se alistó en sus filas. Así pasaron
muchos años y en un día de paga, Alejandro miró con algún asombro una moneda de
oro que le habían dado. Reconoció la efigie y pensó: yo hice acuñar esta
moneda, para celebrar una victoria sobre Darío, cuando yo era Alejandro de
Macedonia.
'1978, La Paz: Cinco mujeres', de Eduardo Galeano
El enemigo principal, ¿cuál es? ¿La
dictadura militar? ¿La burguesía boliviana? ¿El imperialismo? No, compañeros.
Yo quiero decirles estito: nuestro enemigo principal es el miedo. Lo tenemos
adentro.
Estito dijo Domitüa en la mina de
estaño de Catavi y entonces se vino a la capital con otras cuatro mujeres y una
veintena de hijos. En Navidad empezaron la
huelga de hambre. Nadie
creyó en ellas. A más de uno le pareció un buen chiste: — Así que cinco mujeres van a voltear la dictadura.
El
sacerdote Luis Espinal es el primero en sumarse. Al rato ya son mil quinientos
los que hambrean en toda Bolivia. Las cinco mujeres, acostumbradas al hambre
desde que nacieron, llaman al agua pollo o pavo y chuleta a la
sal, y la risa las alimenta. Se multiplican mientras tanto los huelguistas de
hambre, tres mil, diez mil, hasta que son incontables los bolivianos que dejan
de comer y dejan de trabajar y veintitrés días después del comienzo de la
huelga de hambre el pueblo invade las calles y ya no hay manera de parar esto.
'Las hormigas', de Eduardo Galeano
Tracey era niña en un pueblo de
Connecticut, y practicaba
entretenimientos propios de su edad, como cualquier otro tierno angelito de
Dios en el estado de Connecticut o en cualquier otro lugar de este planeta.
Un día, junto a sus compañeritos de
la escuela, Tracey se puso a echar fósforos encendidos en un hormiguero. Todos
disfrutaron mucho de este sano esparcimiento infantil; pero a Tracey la
impresionó algo que los demás no vieron, o hicieron como que no veían, pero que
a ella la paralizó y le dejó, para siempre, una señal en la memoria: ante el
fuego, ante el peligro, las hormigas se separaban en parejas, y de a dos, bien
juntas, bien pegaditas, esperaban la muerte.
'Ventana sobre la palabra', de Eduardo Galeano
Magda recorta palabras de los
diarios, palabras de todos los tamaños, y las guarda en cajas. En cajas rojas
guarda las palabras furiosas. En caja verde, las palabras amantes. En caja
azul, las neutrales. En caja amarilla, las tristes. Y en caja transparente
guarda las palabras que tienen magia.
A veces, ella abre las cajas y las
pone boca abajo sobre la mesa, para que las palabras se mezclen como quieran.
Entonces, las palabras le cuentan lo que ocurre y le anuncian lo que ocurrirá.
'Madeixas cor de sangue', de Daniel Rocha
Ela tinha os cabelos cor de sangue, mas decidiu não se matar.Tinha os cabelos cor de vinho, e tampouco podia beber.Tinha os cabelos cor de fogo, então rezou por paz. E encontrou novas madeixas, que sabiam que cor de dor rima com cor de amor, e perderam o medo de se trançar.
um pouco de tudo
Com ares de ementa um tanto do que será visto:
1. mais sobre o Conto;
2. Definições: “contar” – latim computare, computum (aquilo que é
trazido)
a)
narrativa em prosa
b)
brevidade e concentração
3. Origens: conto tradicional (maravilhoso, oral,
de fadas)
-
parábola e fábula
-
função de mito (quase sagrado)
-
exemplaridade e concretude (modelo moral)
-
eixos fixos (equilíbrio e harmonia)
-
estrutura ordenada (Morfologia do conto,Vladimir
Propp) x novela: “conto mais elaborado”
4. Conto moderno
X poema em prosa, esquete,
crônica
5. Conto X Novela, romance
6. Um passeio pelas Teorias com Edgar Allan Poe, Guy de Maupassant, Anton Tchekov e Machado de Assis, Franz Kafka, Júlio Cortázar e Jorge Luis Borges, James Joyce, Virginia Wolf, Clarice Lispector, Hemingway; Ricardo Piglia e, Horácio Quiroga.
7. Leitura de minicontos de Eduardo Galeano, Fernando
Pessoa [Bernardo Soares], Jorge Luis Borges e Adolfo Bioy
Casares. E, ainda, a leitura de contemporâneos por aqui pelo sul, como Valesca de
Assis, Daniel Rocha, Eduardo Nasi, Cláudia Tajes, Paulo Scott, Paula Taitelbaum, Christina Dias, Cíntia Moscovich, Luís Dill, Carol Bensimon, Célia
Maria Maciel, Evandro Affonso
Ferreira, Daniel Galera, Monique
Revillon e Sérgio
Caparelli.
Assinar:
Postagens (Atom)